A trajetória do nipo-peruano Fernando Matsushita e sua esposa nipo-brasileira Ilza Miura Zaza, proprietários do Restaurante “Do Peruano – Gastronomia & Cultura”, foi destaque na Revista Kyodai Magazine (edição nº 191 -Dez/2016, Jan-Fev/2017).
A Kyodai é uma publicação que circula no Japão, destinada aos peruanos e outros latino-americanos, que lá residem. A história de sucesso de Fernando e Ilza, foi narrada em duas páginas da revista. Confira alguns trechos da reportagem:
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“O peruano Fernando Matsushita é imigrante 2 vezes. Chegou às fábricas japonesas nos anos 90, buscando conseguir um futuro melhor que o trabalho como policial em Lima lhe oferecia. Anos depois, outra crise, de nível mundial, lhe obrigaria novamente a fazer as malas como dezenas de milhares de dekasseguis, que a Grande Recessão de 2008, deixou sem emprego. Outra vez teria que começar do zero, em terra estranha. Mas, agora com a esposa e filhos, tendo como destino: o Brasil.
Oito anos depois, me disse que valeu a pena todo esforço e continuam “gambateando” através de uma ferramenta que aprendeu a usar desde muito jovem: a cozinha. Matsushita e sua esposa Ilza, são proprietários do restaurante “Do Peruano”, um dos poucos restaurantes peruanos existentes na cidade de Curitiba.
(...) Curitiba, tem quase 2 milhões de habitantes e sua numerosa população de origem estrangeira (italianos, alemães, ucranianos, polacos, sírios, libaneses e japoneses, em sua maioria) possibilita a existência de uma variada oferta com relação à gastronomia. O restaurante “Do Peruano” de Matsushita, se somou a esta lista faz 6 anos, embora não precisamente como difusor da gastronomia “rojiblanca” em seu início.
“ - Depois de chegar e refletir sobre em que poderíamos trabalhar, chegamos à conclusão que o mais prático era fazer algo em que já tínhamos experiência (seus avós eram cozinheiros e ele trabalhou num café de familiares, enquanto sua esposa, tinha muita prática na área de confeitaria). - Depois de muitos anos, voltei à cozinha como meio de vida.”
- Já desde o Japão, para ganhar um extra, oferecíamos aos amigos e vizinhos coisas que preparávamos. Decidimos que cozinharíamos para ganharmos a vida aqui, rememora.
Compraram uma localização (ponto) numa feira, (...) e se dedicaram a oferecer saladas e doces e tudo que tinha possibilidade de ser vendido. O caro tratamento de uma enfermidade de um membro da família obrigou-os a buscar mais recursos para arcar com as despesas.
Foi assim que Fernando começou a fazer “obento” que oferecia diariamente aos peruanos que vendem roupas nas galerias do Centro da cidade. “ - Preparava as porções com comida peruana e pouco a pouco divulgavam, aumentando diariamente o número de “obentos” que tinha que entregar. - Até então, nem me passava pela cabeça ter um restaurante” – disse.
EVANGELHO DO CEVICHE
Um cliente satisfeito na feira lhes deu a oportunidade de alugar um local e não hesitaram em pegá-lo. Era um café na parte de baixo de um supermercado que não chegou a render o que esperavam. Foi necessario uma mudança e ela veio paulatinamente, com a presença de alguns pratos da cozinha peruana, entre sanduíches, pastéis, salgados e massas recheadas.
Até então – e mesmo nos dias atuais, a culinária peruana não era tão conhecida no Brasil e menos ainda na multicultural culinária curitibana. De modo, que não bastava apenas servir os pratos, também tinha que explicar o que há atrás de um ceviche e quais são suas origens; introduzir didaticamente ao consumidor brasileiro a particularidade da variada comida peruana.
“- Como o café não estava dando lucro, decidimos arriscar e transformar o local num restaurante peruano. Mas para isso era necessário tornar conhecida nossa comida, porque no início só fazíamos menus para os finais de semana. Nossa atitude com relação aos clientes também teve que mudar, explicando a eles detalhes de cada prato da lista, ingredientes e preparação. - Não trabalhamos com cardápio fixo e diariamente oferecemos uma meia dúzia de pratos principais, fora as sobremesas. Diariamente este menu muda e não se repete por alguns meses. - O único que preparamos todos os dias, que já se tornou popular é o ceviche. - Hoje podemos dizer que a culinária peruana vem se tornando conhecida em Curitiba e estamos trabalhando para isso e não apenas com a frigideira nas mãos.” Explica.
Em razão disso, Fernando e Ilza são convidados com freqüência para participarem de eventos gastronômicos da cidade e oferecer demonstrações sobre preparação de pratos peruanos. Receitas suas aparecem também nas seções de culinária de jornais e revistas da cidade e até mesmo participam voluntariamente de cruzadas de solidariedade e campanhas sociais, doando por exemplo, o lucro da venda de determinando prato no restaurante. Mas tanta dedicação também traz seus frutos: “Do Peruano” vem ganhando suas primeiras distinções e já é referência de cozinha peruana no estado paranaense.
“- Imaginem que estas demonstrações e entrevistas, tem me obrigado a ler livros e investigar sobre a origem da nossa comida e até a história do Peru. É um orgulho, mas também, uma grande responsabilidade. De certa forma, também estamos difundindo nossa cultura. Felizmente as coisas estão indo por um bom caminho e nossas participações em alguns eventos já tem sido premiadas por entidades e meios de comunicação”, conta.
Destaca, entre todas as distinções, sua participação no evento nacional Brasil Sabor, que é organizado pela Associação Brasileira de Restaurantes. “- Se deve criar um prato novo utilizando ingredientes da região. Apresentamos um Locro integral Brasil, com filé de tilápia na crosta de farofa e sementes Budin de tapioca com mel de figo. Unimos gastronomicamente pratos e ingredientes do Peru e Brasil.
Foi um feito do qual nos sentimos muito orgulhosos e teve muitos comentários bons na imprensa que cobriu o evento. Participamos do festival com restaurantes reputados da cidade e muitos se perguntavam como é que num local pequeno e de pouca tradição, conseguimos nos destacar. Este tipo de realizações nos animam a buscar um espaço maior, há muito ainda que queremos fazer, mas, não é possível por limitações do local” Comentou.
Embora a maioria de sua clientela seja brasileira, muitos compatriotas também o visitam. “- Calculo que em Curitiba residam umas 200 famílias de peruanos, que chegaram aqui em duas migrações: a dos anos 80 com muitos compatriotas que estudaram em universidades locais e hoje formados destacadíssimos profissionais, residem na cidade; Depois a onda dos anos 90, integrada basicamente por peruanos que se dedicam ao comércio, principalmente a venda de roupas e calçados. No geral, a colônia peruana goza de boa imagem aqui, mas, precisamos nos unir como coletividade” comenta.
Faz uns dias, no meio da redação deste artigo, me chegou um e-mail de Fernando: “ Da próxima vez que vier haverá ceviche e chancho a La Caja China te esperando. Nos mudamos para um local de dimensões maiores que nos permitirá não apenas ampliar nosso cardápio, mas também, continuar difundindo a cozinha peruana”
Tradução: Nori Seto
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Desde o início de janeiro deste ano, o Restaurante Do Peruano, que antes funcionava no subsolo do Hipermercado Muffato do Tarumã, está de casa nova!! Atualmente o estabelecimento funciona na Av.Mal. Humberto de Alencar e Castello Branco nº 675 , Cristo Rei, um espaço maior e aconchegante!
Apareça lá, pra saborear as delícias da culinária peruana e para bater um papo com o Fernando e com a Zaza!!
Mais informações sobre o Do Peruano:
https://www.facebook.com/DoPeruanogastronomiacultura
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