segunda-feira, 27 de junho de 2016
COSTAS QUENTES (LENDAS DO JAPÃO - CONTO ZENCHI)
Antigamente, no Japão havia muitos rios sem pontes e as travessias, à pé, eram feitas em locais onde os rios se alargavam e tornavam-se de pouca profundidade. Em estradas movimentadas, nesses pontos de travessias existiam até carregadores profissionais que ganhavam o sustento carregando pessoas nas costas de uma margem a outra. Porém, em regiões pouco habitadas, as pessoas tinham que atravessar com as próprias pernas muitas vezes molhando-se até a cintura.
Contam que, certa vez, dois monges budistas caminhavam na beira de um rio e, numa curva, avistaram uma linda jovem que, indecisa, não sabia como atravessá-lo sem molhar seu traje. Os dois continuaram a caminhada até que ao aproximar-se da garota, o mais jovem propôs ajudá-la a atravessar o rio que era relativamente largo.
A jovem aceitou a gentil oferta e o monge sem mais delongas, tomou-a nas costa e cruzou as águas molhando o seu manto monacal. Chegando à outra margem, depositou-a no chão, despediu-se e continuou a caminhada. Ela mal teve tempo de agradecer e despedindo-se seguiu o seu destino.
O monge mais velho que atravessou ao lado com o manto arregaçado até a cintura, mostrou-se indignado olhando as vestes molhadas do companheiro com ar de desaprovação. Mal deram alguns passos, e o que não ajudou a jovem não se conteve e começou:
- Você infringiu as normas monásticas. Sabes muito bem que de acordo com a tradição não podemos tocar em mulher. Isso vai contra os mandamentos, ter contato com mulheres não é hábito nosso.
O mais novo continuou calado seguindo a peregrinação. Mais alguns minutos em silêncio e o mais velho voltou à carga:
- Como você pode ir contra as regras? Abraçou uma jovem, sentiu seu corpo, é um absurdo o que você fez. Isto não são modos de se praticar a senda budista, está bem que você é muito novo, mas não deve agir assim.
O monge que tinha carregado a garota seguia em silêncio andando, até que na terceira intervenção do amigo não se conteve e respondeu:
- Eu a deixei junto à margem do rio. Você continua carregando-a até agora.
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* Texto, ilustração e adaptação livre: Claudio Seto
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